The Nature Conservancy e Amazon se unem para impulsionar a restauração da Amazônia com agricultores familiares
Projeto buscará envolver até três mil agricultores familiares para expandir os sistemas agroflorestais de cacau no Pará.
A The Nature Conservancy (TNC), organização não governamental que trabalha em escala global para a conservação do meio ambiente, em parceria com a Amazon e o World Agroforestry (ICRAF), anuncia o lançamento de um projeto inovador que busca usar recursos dos créditos de carbono para impulsionar a implementação de sistemas agroflorestais e a restauração ecológica. O projeto, chamado Acelerador de Agroflorestas e Restauração, atua na raiz das questões sociais da área rural do Pará, ao oferecer novas oportunidades econômicas aos agricultores familiares.
Com o compromisso de engajar até três mil famílias, a iniciativa irá ajudar agricultores familiares que hoje possuem áreas degradadas ou improdutivas em suas propriedades, principalmente devido à pecuária de baixa tecnologia, a migrar para arranjos de sistemas agroflorestais, com base no cultivo do cacau e outras espécies nativas da Amazônia, como o açaí, que possuem alta demanda de mercado e atrativa rentabilidade. O projeto irá trabalhar com agricultores em três territórios: sudeste do Pará, região da rodovia Transamazônica e região do nordeste paraense.
A recuperação dessas áreas deverá abranger um total de 18 mil hectares, o equivalente ao tamanho da cidade de Aracaju, capital de Sergipe, além de remover 9,6 milhões de toneladas de carbono da atmosfera, em 30 anos. Com isso, a iniciativa será capaz de gerar créditos de carbono de qualidade, atraindo investimentos e inovando ao criar um modelo de negócios expansível e replicável em outras regiões.
Como funciona o projeto
O Acelerador de Agroflorestas e Restauração irá munir os produtores familiares com sementes e mudas para a implantação e manejo de sistemas agroflorestais e restauração florestal, com a oferta de serviços de assistência técnica e treinamentos, acesso a crédito rural e aos mercados consumidores, além de beneficiar os agricultores na adequação ambiental de seus imóveis rurais, dentro das exigências legais. Todo esse suporte terá a gestão da TNC, baseada em sua experiência de mais de 20 anos de projetos de restauração na Amazônia, em parceria com o ICRAF, centro de pesquisa e desenvolvimento voltado à restauração e à produção sustentável por meio da agrofloresta, e diversos outras instituições locais, como cooperativas, associações, agências governamentais e ONGs.
A Amazon, que está financiando a iniciativa, vai gerar créditos a partir do carbono que é capturado e armazenado pelos sistemas agroflorestais e pela restauração florestal e usará esses créditos para neutralizar as emissões de seus negócios que não podem ser eliminadas por outros meios, como parte de seu compromisso de se tornar carbono líquido zero até 2040.
O projeto irá garantir que os ganhos dos agricultores e investidores sejam justos, compensando adequadamente cada parte interessada, considerando seus investimentos e riscos. Para isso, a Amazon, a TNC e o ICRAF irão monitorar continuamente os indicadores financeiros e socioeconômicos para avaliar o programa e considerar recalibrações nos acordos com os agricultores, nas estruturas de investimento e em outros elementos do projeto.
Para serem selecionados, os agricultores terão de atender a alguns critérios, como perfil da propriedade (área máxima de 400 hectares) e mão-de-obra, que precisa ser, predominantemente familiar, além de demonstrar interesse em sistemas agroflorestais, como o cacau, banana, mandioca, frutíferas amazônicas, entre outras.
“A parceria entre a TNC e a Amazon é uma forma de criar um novo modelo de negócios que fomenta uma cadeia que gera conservação e renda”, afirma Ian Thompson, Diretor Executivo da TNC Brasil. “É uma ação concreta que possibilita o uso de soluções baseadas na natureza para a entrega de resultados de impacto e mudanças em escala”, completa.
Para a TNC, o Pará é uma região prioritária de conservação na Amazônia, pois abriga 9% da floresta tropical mundial, uma área de vegetação nativa quase quatro vezes o território do estado de São Paulo. Além disso, o estado respondeu por 41% de todo o desmatamento na Amazônia brasileira em 2019, número que subiu para 47% em 2020. Os 360 mil agricultores familiares do estado responderam por 33% do desmatamento, ou 171 mil hectares do desmatamento em 2020.
Embora o desmatamento na região seja motivado por razões variadas, a falta de alternativas de renda e de assistência técnica para agricultores familiares faz com que muitos considerem o desmatamento a única solução acessível. “Os agricultores reconhecem o valor da floresta em pé, mas carecem de investimentos para desenvolver uma produção livre de desmatamento. Este projeto poderá ajudá-los a ter mais renda com produtos da biodiversidade Amazônica, como o cacau, garantindo que a terra esteja sempre saudável e fértil”, destaca Raimundo Freire dos Santos, presidente da Cooperativa Alternativa Mista dos Pequenos Produtores do Alto Xingu (Camppax).
A floresta Amazônica engloba 65% da vegetação nativa no continente. É uma área de prioridade de conservação e restauração e elemento-chave na resolução dos efeitos provocados pelas mudanças climáticas e rica em biodiversidade.
“As práticas regenerativas exercem uma função essencial ao propiciar aos agricultores familiares um sistema produtivo rentável que não exija novas áreas desmatadas, ao mesmo tempo em que melhora os meios de vida das famílias e restaura funções ecológicas das florestas, aumentando a biodiversidade”, destaca Andrew Miccolis, coordenador nacional do ICRAF. “Uma solução que gera ganhos para todos”, conclui.