PESCA ARTESANAL Ednaldo Rocha, do MOPEBAM, é um dos parceiros do trabalho da TNC para conservação na Bacia do Tapajós. © Daniel Gutierrez

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Parcerias para fortalecar a ciência na Amazônia

TNC e UFOPA trabalham com comunidades tradicionais para conservar a Bacia do Tapajós.

A inovação é uma ferramenta estratégica para fortalecer a conservação da natureza. Para estimular a busca por novas formas de contribuir nessa agenda na Bacia do Tapajós, no Pará, a The Nature Conservancy (TNC) tem trabalhado em colaboração com a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) na implementação de projetos que visam promover a inclusão de comunidades locais e a valorização do conhecimento tradicional desses grupos para fortalecer a ciência e as ações de conservação na Amazônia.

Um dos projetos implementados em parceria com a Universidade, é o Águas do Tapajós, que também conta com o Movimento de Pescadores do Baixo Amazonas (MOPEBAM) como parceiro. O Projeto Águas do Tapajós busca proteger os ecossistemas de água doce da Bacia do Tapajós.  A iniciativa tem colaboração direta com as comunidades locais e ribeirinhas que desenvolvem a pesca artesanal e dependem dos recursos da bacia para sua sobrevivência e atividade produtiva. “O projeto está contribuindo para fortalecimento da organização das colônias de pescadores, com cursos de formação de novas lideranças, além de apoiar mecanismos participativos e acordos comunitários de pesca, que ajudam a melhorar a qualidade de vida nas comunidades e garantem um melhor manejo sustentável dos recursos naturais”, afirma Ednaldo Rocha, do MOPEBAM. O projeto também inclui ações de fortalecimento institucional do MOPEBAM para gerenciamento de conflitos referentes ao setor de pesca artesanal, além de apoiar a maior participação das comunidades do entorno nas tomadas de decisão que afetem a bacia dos Tapajós.

Dentro do arranjo do projeto, são apoiadas pesquisas científicas realizadas pela equipe da UFOPA para monitorar a biodiversidade, os recursos pesqueiros e a qualidade da água na bacia, assim como gerar dados para que seja possível acompanhar os resultados de impactos ambientais que acontecem na região, como o desmatamento ou a mineração ilegal. “A missão da Universidade é levar mais conhecimento e oportunidades para promover o desenvolvimento local e regional. É uma honra muito grande executar esse projeto que tem o objetivo de incentivar o uso sustentável dos recursos aquáticos e a conservação da biodiversidade de água doce no médio e baixo Tapajós, apoiando a gestão comunitária”, afirma a professora Iracenir Santos, coordenadora do projeto na UFOPA.

Às margens do Rio Tapajós, a Comunidade de Solimões é uma das que trabalham em parceria com o projeto Águas do Tapajós.
SOLIMÕES Às margens do Rio Tapajós, a Comunidade de Solimões é uma das que trabalham em parceria com o projeto Águas do Tapajós. © Daniel Gutierrez

As ações de levantamento de dados para análise nas pesquisas também são feitas em parceria com as comunidades, a exemplo do trabalho de monitoramento da migração de peixes realizado com alunos de escolas de áreas ribeirinhas pelo aplicativo de celular ICTIO, desenvolvido no âmbito do projeto Ciência Cidadã para a Amazônia, com o apoio da Wildlife Conservation Society (WCS) e do Laboratório de Ornitologia da Universidade de Cornell. Uma forma de incentivar os jovens estudantes das escolas de ensino básico na participação em projetos científicos. Assim, além de avançar na coleta de dados essenciais para a realização de pesquisas na região do Tapajós, há um incentivo para formação de novos pesquisadores, despertando o interesse desses jovens monitores para a pesquisa científica.

Inovações da sociobioeconomia

Outra iniciativa de parceria entre a TNC e a UFOPA é o Projeto Inovatec Sociobiodiversidade, que contribuiu para a inclusão de jovens universitários oriundos de comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas em projetos de pesquisa e desenvolvimento. A partir do lançamento de um edital, o projeto oferece bolsas de estudos aos alunos que querem se dedicar à realização de pesquisas para estimular o empreendedorismo comunitário e fomentar inovações que contribuam para melhoria da qualidade de vida das comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas. O edital selecionou seis projetos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico que serão realizados entre 2021 e 2022, em parceria com comunidades da Bacia do Tapajós, com o objetivo de agregar valor a produtos tradicionais e contribuir para a implementação de novas tecnologias.

Os projetos contemplados incluem desde o incentivo ao empreendedorismo na produção de cerâmica do povo indígena Munduruku ou o fortalecimento da cadeia agroextrativista de açaí na comunidade do Maicá, em Santarém-PA, até o desenvolvimento de tecnologias para redução dos níveis consumidos de mercúrio em comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas. Outros projetos buscam apoiar a produção de tambaquis em tanque-rede, com produção de ração a partir de resíduos agroindustriais das próprias comunidades e a estruturação das cadeias de valor extrativas do cumaru, copaíba e castanha-do-pará no quilombo do Pacoval em Alenquer-PA, aumentando a valorização dos produtos da floresta, melhorando a geração de renda na comunidade e incentivando a conservação da biodiversidade.

Quote: Helcio Souza

As comunidades tradicionais são os principais parceiros para proteção da natureza. E sabemos que é preciso ter a proteção e conservação ambiental, mas também qualidade de vida para as pessoas.

Gerente da Estratégia de Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais

Helcio Souza, Gerente da Estratégia de Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais da TNC Brasil, destaca a importância do fomento a iniciativas como essas para alavancar as ações de conservação na Amazônia. “As comunidades tradicionais são os principais parceiros para proteção das florestas, rios e biodiversidade. E sabemos que é preciso ter a proteção e conservação ambiental, mas também é preciso ter qualidade de vida para as pessoas que vivem nesses territórios. Por isso, é essencial apoiar as estratégias de sustentabilidade econômica das comunidades”, afirma Helcio. Além disso, o edital Inovatec Sociobiodiversidade contribui para fortalecer a conexão entre os jovens que estão nas universidades e suas comunidades de origem. “Existe uma demanda das lideranças comunitárias de que os jovens que vão para as universidades retornem para as comunidades, para que eles possam ir para as universidades pensando também nas necessidades e realidades de suas comunidades e que sua formação ajude a levar esse benefício compartilhado com seu local de origem”, conclui Helcio.

Para avançar os objetivos de conservação na Bacia do Tapajós e em toda a Amazônia é preciso desenvolver ações baseadas em ciência, incentivando a produção científica regional e reconhecendo o papel essencial dos povos e comunidades tradicionais e de seus conhecimentos. Com essas iniciativas na região, a TNC busca fomentar um modelo de parcerias para fortalecimento da ciência e inclusão social que sirva de referência para todas as universidades da Amazônia.