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Quatro maneiras em que as mudanças climáticas tornam outros problemas ainda piores

An aerial view of a Houston neighborhood with flood water rising to rooftops.
Disasters Climate change is causing other problems to be worse, including increased disasters like hurricanes. © Sgt. Daniel J. Martinez/Air National Guard

As mudanças climáticas estão, de fato, tornando mais difícil manter a saúde e a segurança no mundo. Mas isso não é irremediável e não estamos desamparados.

As mudanças climáticas são um problema mundial e geram o que a cientista-chefe da The Nature Conservancy, Katharine Hayhoe, considera o mito mais perigoso.

Segundo Hayhoe, esse mito é achar que “nada disso nos afeta,  que são problemas distantes que dizem respeito somente às gerações futuras e lugares longínquos”.

Vista aérea de barcaças no rio Mississippi e suas curvas contornando áreas povoadas e florestas.
Perto de casa Estamos sentindo os efeitos das mudanças climáticas de forma acelerada, aqui e agora. Mas a principal razão para se preocupar não são os novos problemas que surgem, mas os velhos problemas que vêm piorando. © Robert J. Hurt

Efeitos globais e locais das mudanças climáticas

 verdade é que estamos sentindo os efeitos desse aquecimento acelerado aqui e agora:

  • Quando compramos comida: os preços dos alimentos estão subindo devido a mudanças nas práticas e locais de produção.
  • Quando viajamos: temporadas mais longas de furacões e incêndios florestais e temporadas mais curtas de neve atrapalham as viagens e prejudicam as economias que dependem do turismo.
  • Quando faltamos à escola ou ao trabalho devido a ondas de calor extremas, inundações e poluição do ar.

Mas a principal razão para se preocupar imediatamente com as mudanças climáticas não são os novos problemas que vêm surgindo, mas os velhos problemas que vêm piorando.

Quote: Katherine Hayhoe

O mito é achar que “nada disso nos afeta, e que diz respeito somente às gerações futuras e lugares distantes

Cientista-chefe, The Nature Conservancy

Estas são algumas das ameaças mundiais à saúde e à segurança que as mudanças climáticas estão tornando mais complexas:

1. As mudanças climáticas agravam a desigualdade social e econômica

O mundo já é desigual, e o poder disruptivo das mudanças climáticas o torna ainda mais.

Grupos desfavorecidos e as populações mais pobres do mundo sofrem os piores impactos climáticos porque dispõem de menos recursos para se recuperarem de desastres e se adaptarem. As dificuldades adicionais impostas às pessoas mais vulneráveis ao lidarem com as mudanças climáticas – relacionadas a dinheiro, tempo e estresse – perpetua o ciclo de desigualdade.

Três peixes-palhaço nadam entre anêmonas.
PERDA DE BIODIVERSIDADE Enquanto a mudança de temperatura e de habitats afeta as áreas de distribuição de algumas espécies, outras são impedidas de avançar pelo desenvolvimento. Espécies generalistas substituem aquelas que evoluíram dentro de determinados ecossistemas. © Tory Chase

Injustamente, as pessoas mais vulneráveis são também as que menos emitiram gases retentores de calor, principal causa do problema.

Quando olhamos para a desigualdade entre países, vemos padrões semelhantes. Embora a diferença de riqueza entre os países esteja melhorando nos últimos 25 anos, a mudança climática vem freando esse progresso e pode acabar revertendo-o.

Uma das principais consequências dessa desigualdade está relacionada ao aumento das temperaturas e à agricultura. Os países mais ricos geralmente têm climas mais frios do que os mais pobres. À medida que as temperaturas sobem em todos os lugares, os países mais quentes enfrentam mais problemas para cultivar os produtos essenciais para suas economias, enquanto os países mais frios tornam-se capazes de produzir uma variedade maior de alimentos.

2. As mudanças climáticas aceleram a perda de biodiversidade

Animais e plantas tentam se adaptar ao estresse dos efeitos perturbadores das mudanças climáticas na temperatura e umidade.

Enquanto algumas espécies mudam suas áreas de distribuição, espalhando-se por retalhos de habitats, outras são impedidas de avançar pelo desenvolvimento de fazendas e áreas urbanas. Nesse processo, algumas espécies que evoluíram dentro de certos ecossistemas são extintas e substituídas por espécies generalistas. Na terra e no mar, as taxas de perda e extinção da biodiversidade vêm se acelerando.

Um close-up de flores da sálvia com um pano de fundo do deserto e montanhas de Tehachapi.
RESTAURAR E PROTEGER Algumas espécies podem se deslocar para sobreviver às mudanças climáticas, enquanto outras são impedidas de avançar pelo desenvolvimento. Algumas espécies que evoluíram em ecossistemas especializados são extintas. As pessoas que dependem dessas espécies também sofrem. © Ian Shive

Perda de empregos

O aumento do nível do mar, a acidificação dos oceanos e tempestades extremas mais frequentes atingiram os criadouros de mariscos, levando à perda de empregos na indústria de frutos do mar.

As pessoas que dependem dessas espécies também passam por dificuldades. Pescadores de todo o mundo estão pegando menos peixes à medida que os cardumes se deslocam para águas mais frias. Algumas dessas espécies são icônicas – como o bacalhau do Atlântico em Cape Cod, Massachusetts. Os pescadores dessas águas são obrigados se adaptar se quiserem manter seus meios de subsistência, o que significa pescar novas espécies.

E o que dizer sobre a população local que quiser comprar bacalhau do Atlântico? Pois, deverão pagar mais para importá-lo das regiões do norte.

3. As mudanças climáticas aumentam a violência de gênero

Uma borboleta vice-rei com as asas abertas em uma folha de grama.
UM PONTO DE INFLEXÃO Os diversos desastres podem causar um "ponto de inflexão" para outros problemas que podem parecer não relacionados, como a violência de gênero. No entanto, muitos desses problemas estão conectados, e resolver um pode ajudar a resolver os outros. © Ryan Rasmussen

Todos os tipos de crises – incluindo pandemias mundiais – aumentam a violência de gênero. Países de todo o mundo registram picos de violência doméstica após desastres naturais. E as mudanças climáticas fazem com que esses desastres sejam mais frequentes e graves.

Os desastres climáticos, como furacões e secas, podem amplificar os fatores de risco para a violência de gênero e doméstica. Esses eventos perturbadores podem desestabilizar as finanças, limitar o acesso a alimentos e água e forçar as pessoas a se reassentarem. O estresse gerado por essas crises pode levar à violência e intensificar as vulnerabilidades existentes, como o isolamento, a desigualdade de gênero e a sobrecarga das redes de serviços e apoio.

Ponto de inflexão

As taxas de violência doméstica e de gênero podem permanecer altas por anos após os desastres, como no caso do furacão Katrina.

A frequência cada vez maior de desastres climáticos apresenta um perigoso efeito dominó. Com pouco tempo para as comunidades se recuperarem, crises climáticas consecutivas podem resultar em refugiados climáticos (pessoas que são permanentemente deslocadas devido a desastres). Mulheres, crianças e outros grupos vulneráveis deslocados correm maior risco de violência.

Quase um milhão de pessoas nos Estados Unidos foram deslocadas por um desastre em 2019, tornando-se um dos principais países em termos de deslocamento climático. O exemplo mais recente foi a potente tempestade de inverno no Texas. Após vários furacões e uma pandemia, esse foi um "ponto de inflexão" letal no que diz respeito à violência de gênero.

4. As mudanças climáticas aumentam o número de carrapatos e as doenças que eles transmitem

As mudanças climáticas são, infelizmente, ótimas para os carrapatos. Hoje em dia, o clima mais quente começa mais cedo no ano e dura mais, permitindo que os carrapatos sobrevivam a invernos mais curtos e menos frios. O aumento das temperaturas também lhes permite se mover a áreas onde antes não conseguiam sobreviver.

Vista de um corpo d’água cercado por vegetação aquática, árvores, colinas rochosas e montanhas distantes.
HABITAT SAUDÁVEL Quando os habitats funcionam adequadamente, a vida silvestre e as pessoas conseguem coexistir. Sem habitats saudáveis, vemos cada vez mais problemas, como novas espécies de pragas que podem ser desastrosas para as pessoas.

Síndrome alfa-gal

Esta é uma doença transmitida por carrapatos que causa uma reação alérgica à carne vermelha em pessoas picadas pelo inseto.

As doenças transmitidas por carrapatos também estão se propagando. O índice de doença de Lyme, transmitida principalmente por carrapatos, dobrou nos Estados Unidos. Os carrapatos que se mudaram recentemente para novas áreas trazem consigo novas doenças, aumentando as infecções. Essas infecções podem ser mais difíceis de diagnosticar. Algumas dessas novas doenças, como a anaplasmose e o vírus Powassan, podem ser fatais se não forem detectadas imediatamente.

Muitas pessoas não estão acostumadas com tantos carrapatos – ou nunca viram um – e não tomam as precauções necessárias ao estarem em ambientes a céu aberto. Os carrapatos são pequenos o suficiente para que a maioria das pessoas nem perceba que foi picada, o que pode atrasar ainda mais o diagnóstico das doenças transmitidas.

As boas notícias: temos o poder de mudar o futuro

As mudanças climáticas estão de fato tornando muitos problemas ainda piores, mas isso não é irremediável e não estamos desamparados. Neste momento, a ação mais eficaz que qualquer um pode fazer é falar sobre o problema.

Se você não tiver certeza de como esse tema será recebido, comece simplesmente se aproximando das pessoas.

Ao trazer o assunto à tona nas conversas, você estará mostrando que as mudanças climáticas são importantes. Dessa forma você também normalizará o assunto entre seus amigos e familiares, para que eles também possam discuti-lo em suas próprias interações.

Podemos e devemos resolver este problema urgente

Fale com seus representantes eleitos sobre os assuntos que lhe interessam.