Cinco soluções para os desafios destacados no Relatório de Clima e Terras do IPCC
O novo relatório das Nações Unidas traz descobertas sombrias sobre o clima no nosso planeta, mas podemos tomar algumas providências agora.
A profunda transformação que fizemos nas paisagens da Terra está acelerando as mudanças climáticas e colocando em risco o desenvolvimento humano e a biodiversidade global. Este é o principal tema do recém lançado Relatório Especial de Mudanças Climáticas e Terras, produzido pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas.
Este último estudo confirma que a segurança alimentar e setores que dependem da qualidade do solo estão sob risco caso os negócios continuem da mesma forma e necessitam de uma maior atenção nas tomadas de decisão em um esforço global de combate às mudanças climáticas. O relatório foi aprovado por 195 governos nacionais, mas a questão permanece: a comunidade internacional vai conseguir se mobilizar politicamente para enfrentar as ameaças eminentes para a natureza e para as pessoas?
O IPCC estima que mais de 70% das áreas continentais da Terra já foram alteradas pela atividade humana, sem contar as áreas de gelo, sendo que 25% dessas áreas estão em estado de degradação. A expansão dos setores de uso de terra, especialmente agropecuário e madeireiro, tem contribuído para a rápida transformação dos ecossistemas naturais e perda de biodiversidade. Gases emissores do efeito estufa associados a produção de alimentos em áreas continentais emitem entre 21% e 37% do total de emissões causadas pela atividade humana, e isso provavelmente aumentará se as populações, produções e padrões de consumo crescerem como o esperado.
Essas condições significam sérias ameaças para a vida humana e seus meios de subsistência. O IPCC divulgou que o aumento de temperatura, mudanças nos níveis de chuva e a maior frequência de temperaturas extremas já desestabilizam o abastecimento global de alimentos. O novo relatório projeta que a média de preço dos cereais pode aumentar 7,6% até 2050, mesmo se a qualidade nutricional das safras diminuir, levando a uma grande insegurança alimentar, especialmente para populações já vulneráveis.
Mas por mais aterrorizante que isso possa parecer, a última coisa que precisamos é de um pânico que nos faça paralisar. Precisamos entender que isso exige ações ambiciosas. Este relatório mostra que as práticas de uso da terra podem aumentar ou mitigar as mudanças climáticas, convertendo as paisagens em fontes ou absorvedoras de carbono. Conheça alguns passos que podem ajudar a mudar esse curso, de um cenário de degradação para um caminho mais sustentável.
Proteger e restaurar florestas e outras paisagens naturais
Frear o desmatamento e replantar árvores em escala são duas das mais efetivas e cientificamente comprovadas medidas que governos podem aplicar agora mesmo para enfrentar desafios sociais, políticos e ambientais. Isso porque florestas saudáveis são importantes para a economia local, garantindo segurança hídrica, melhorando a qualidade do solo e ajudando a regular o clima. Mas mesmo que as soluções baseadas na natureza representem 1/3 da redução de emissões globais necessárias até 2030, elas recebem apenas 3% dos recursos públicos para mitigação das mudanças climáticas. Isso pode parecer contra-intuitivo, os setores madeireiros e agropecuários podem ser aliados essenciais para acelerar a implantação dessas estratégias, como a sustentabilidade financeira dessas atividades dependem diretamente das áreas em que operam.
Facilitar a adoção de melhores práticas agropecuárias
As maiores inovações que nos permitiram aumentar a produção e combater a fome no mundo no Século XX agora estão ameaçando nosso sistema alimentar, mas as soluções podem estar logo abaixo da superfície das modernas propriedades agrícolas, onde as condições do solo podem mitigar ou alavancar as mudanças climáticas. Na verdade, muitos agricultores consideram isso uma “feliz coincidência” que estimula abordagens financeiramente sustentáveis de sistemas agroflorestais, já que aumentar a diversidade de produtos nas lavouras também é bom para o clima e para a biodiversidade. Uma maneira de encorajar essas práticas é estimular projetos de agricultura de baixo carbono.
Estimular a revolução energética
O mundo precisa de mais energia limpa, mas isso é essencial implementar projetos nos melhores lugares possíveis para evitar a degradação do meio ambiente, que pode nos deixar ainda mais longe dos nossos objetivos climáticos. Felizmente, as áreas degradadas da Terra têm o potencial de produzir 17 vezes mais energia. Desenvolvendo políticas e ferramentas de financiamento para garantir que novas infraestruturas sejam implantadas nessas áreas já degradadas, podemos preservar paisagens naturais que protegem a biodiversidade e sequestram carbono.
Manter a biodiversidade nas cidades e nas áreas rurais
O desenvolvimento inteligente respeita ecossistemas naturais entendendo que tanto a natureza quanto as pessoas não conseguem prosperar sem a vida selvagem nativa. Diversificar a produção agrícola e criar áreas verdes nas cidades pode revitalizar os “desertos verdes” no mundo todo. Isso significa que autoridades locais e regionais precisam fazer parte de um planejamento da biodiversidade em nível nacional. E como 80% da biodiversidade está em Terras Indígenas, é preciso reconhecer a liderança deles e honrar os seus direitos e autonomia na proteção e gestão desses territórios.
Desenvolver parcerias entre diversos setores para maximizar impactos
O setor público não consegue resolver sozinho os desafios de conservação que temos hoje. Ações corporativas, especialmente dos setores relacionados ao uso da terra, devem complementar políticas públicas para alcançar as metas definidas por acordos internacionais. E com um déficit de $250 bilhões abaixo do necessário para o financiamento global em esforços de conservação, precisamos urgentemente acelerar os investimentos do setor privado que sustentem as terras, águas e ecossistemas de que todos nós dependemos.