Alavancando a restauração florestal na Serra da Mantiqueira
Parcerias fortalecem iniciativas para reflorestamento em larga escala na Mata Atlântica.
Localizada entre algumas das maiores regiões metropolitanas do Brasil, a Serra da Mantiqueira passou por um grande histórico de degradação da vegetação nativa durante o processo de urbanização dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e sul de Minas Gerais. Na região estão localizados mananciais responsáveis pelo abastecimento de água das cidades com maiores índices populacionais do Brasil. Felizmente, estudos indicam que a Mata Atlântica hoje passa por um significativo processo de restauração florestal, que é impulsionado por importantes parcerias entre os setores público, privado e sociedade civil, que já estimulam uma transformação social e ambiental no meio rural da região.
Por meio de uma dessas parcerias, entre a The Nature Conservancy (TNC) e a Fundação Swarovski, em dezembro de 2019 foi implementada uma unidade demonstrativa de restauração florestal em um total de 1,54 hectare dentro do campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais (IFSULDEMINAS) no município de Inconfidentes-MG, testando e levantando dados sobre as técnicas de regeneração natural, de plantio de mudas e de muvuca - uma mistura de sementes nativas. O objetivo é avaliar quais técnicas de restauração são mais efetivas para a realidade da região da Serra da Mantiqueira, considerando os benefícios ambientais e os custos de implantação. “O trabalho vai ajudar os produtores rurais a avaliar o custo-benefício das técnicas de restauração para definir como os recursos utilizados por eles podem ter mais efetividade e menos perdas” afirma Sara Cavalcanti, estudante de Engenharia Ambiental do IFSULDEMINAS e bolsista do projeto.
A análise científica das técnicas de restauração utilizadas nas unidades demonstrativas vai gerar dados para que seja possível replicar os modelos bem sucedidos adotados nas áreas de testes. Isso pode contribuir para combater um dos principais desafios para dar escala a recuperação de florestas: o custo de implementação de projetos de restauração. “Com essa iniciativa é possível gerar dados consolidados e testar metodologias que possam fazer a restauração avançar em larga escala e a um custo mais baixo”, afirma Adriana Kfouri, Gerente Regional da Mantiqueira da TNC. Com informação qualificada e base científica, os projetos de restauração serão florestas que garantirão os serviços ambientais de que dependemos, como a segurança hídrica ou a mitigação das mudanças climáticas.
A Unidade Demonstrativa implementada em Inconfidentes foi inspiração para duas outras, em Machado e Muzambinho, também em Minas Gerais. Além da ciência, o objetivo é que elas sirvam de modelo para projetos em propriedades privadas nos vários municípios que integram o Plano Conservador da Mantiqueira.
O Conservador da Mantiqueira reúne 425 municípios, desenvolvendo ações estruturantes e criando as condições necessárias para alavancar a restauração florestal em áreas prioritárias para conservação, especialmente em locais próximos a nascentes e matas ciliares que possam influenciar na produção de água. O Programa surgiu após a experiência bem sucedida do projeto Conservador das Águas, em Extrema-MG, que hoje consegue plantar mais de mil mudas de árvores por dia e hoje compartilha experiências com outros municípios da região.
Quote: Adriana Kfouri
Os produtores rurais são outros parceiros fundamentais para que seja possível restaurar florestas, considerando que a maior parte das áreas prioritárias para restauração está localizada em propriedades privadas. “Felizmente os proprietários rurais têm nos procurado muito e nos recebido bem. Eles se sentem valorizados com as visitas periódicas dos técnicos para dar apoio nas ações de restauração, saneamento e assistência agropecuária. E isso os ajuda a entender o cercamento de áreas prioritárias para conservação e regeneração natural”, afirma Priscila Bueno, Secretária de Meio Ambiente de Santa Rita de Caldas-MG, um dos municípios do sul de Minas Gerais que já aderiu ao programa Conservador da Mantiqueira.
Anteriormente, Priscila era Secretária de Meio Ambiente de Caldas-MG, município vizinho, no qual ela também colaborou para a adesão ao programa. Juntos, sete municípios limítrofes de Caldas e Santa Rita de Caldas estão fortalecendo a restauração florestal na região, incialmente apoiando proprietários rurais para o cercamento de áreas para regeneração natural. Mas com base nos estudos realizados pelo projeto, os municípios terão maior base científica para buscar parcerias e recursos para em breve apoiar a utilização de outras técnicas de restauração florestal, como enriquecimento de regeneração, plantio de mudas e muvuca.
Bons exemplos se espalhando pela Mantiqueira
O histórico de degradação ambiental da região já vem sendo combatido há alguns anos por produtores e proprietários rurais que enxergam os benefícios de proteger a natureza ou desenvolver suas atividades produtivas de forma mais sustentável. É o caso de Jonathas Galdino, produtor rural de Caldas-MG. Filho de agricultores, após um tempo morando na cidade ele reencontrou o amor pelo trabalho no campo quando conheceu a agricultura orgânica e biodinâmica. A produção de gado e uva na propriedade de 12 hectares da família passou a se diversificar mais em 2017, quando ele começou a participar mais ativamente da atividade familiar e implantou também a produção de hortaliças e mel de forma orgânica. “A propriedade já era dos meus pais desde 1998 e sempre procuramos preservar as áreas próximas de nascentes e de córregos, mas há alguns anos ficamos sabendo que o município começou a fazer parte do programa Conservador da Mantiqueira e decidimos aderir para restaurar também outras áreas degradadas”. Jonathas já firmou parceria com a Secretaria de Meio Ambiente do município e agora está iniciando o processo de cercamento de 2 hectares de seu sítio para regeneração natural. “Muitos agricultores já sabem o que é necessário fazer para seguir a legislação, mas não sabem como fazer e é difícil tomar inciativa por falta de recursos. Então quando um parceiro fornece apoio é possível atrair mais produtores rurais para aumentar a preservação da natureza. Além disso, esse tipo de iniciativa acaba sendo um fator catalizador, porque quando o trabalho estiver pronto os vizinhos vão ver e ter interesse em aderir também”, conclui o agricultor.
A influência de produtores que aderem ao projeto para as comunidades também é notada pela Secretária de Meio Ambiente de Santa Rita de Caldas-MG. “O produtor vê um vizinho e começa a entender que apesar de não produzir em determinada área ele vai ganhar em disponibilidade de água, em assistência técnica... E isso resulta em mais renda para o agricultor. Além do ganho ambiental existem os ganhos sociais e econômicos” conclui Priscila.
Incentivar iniciativas de restauração florestal que priorizem os proprietários rurais, reduzindo custos de implantação e oferecendo recursos e mecanismos que viabilizem aumento de renda são o caminho para aumentar a escala das atividades, e assim colaborar para atingir as metas brasileiras.
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