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Restaurando ecossistemas e gerando empregos

Além de contribuir para a mitigação das mudanças climáticas, a restauração por meio de sistemas agroflorestais gera emprego e renda no meio rural.

Por Wandreia Baitz, Gerente do Projeto Acelerador de Agroflorestas e Restauração da TNC Brasil.

Produtora rural caminhando em meio a área de plantio em agroflorestas.
Produtora rural caminhando em meio a área de plantio em agroflorestas. © Denys Costa

O que acontece na Amazônia afeta a todos nós de diversas maneiras. E embora os alertas de desmatamento no bioma tenham caído 31% nos cinco primeiros meses deste ano, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a pressão para abertura e conversão de áreas na maior floresta tropical do planeta ainda é grande. A supressão de cobertura vegetal contribui com a liberação de milhões de toneladas de carbono na atmosfera, aumentando a perda de biodiversidade e diminuindo a provisão de serviços ecossistêmicos e o bem-estar da população.

Um exemplo disso é o impacto negativo do desmatamento no ciclo hidrológico da região, ampliando o período de seca na Amazônia e, consequentemente, afetando o regime de chuvas em outras partes do país, o volume de água dos rios e a produção agrícola, ou seja, uma reação em cadeia que atinge todos nós. Hoje, chegamos a um nível de degradação em que não é suficiente apenas frear o desmatamento, mas também é preciso recuperar áreas degradadas para garantir um futuro saudável para nós e o planeta.

Estudos mostram que soluções baseadas em natureza, como a restauração florestal, podem contribuir com um terço da mitigação necessária aos efeitos das mudanças climáticas, isso porque elas ajudam a manter a natureza saudável e em equilíbrio, absorvendo dióxido de carbono e liberando oxigênio. Nesse sentido, o carbono armazenado na Amazônia ajuda a garantir a estabilidade do clima no mundo inteiro.

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Estudos mostram que soluções baseadas em natureza, como a restauração florestal, podem contribuir com um terço da mitigação necessária aos efeitos das mudanças climáticas.

Trabalhar com agricultores familiares pode ser uma boa alternativa para aumentar a escala da restauração em áreas degradadas de pequenas propriedades. Um exemplo é o trabalho feito pelo projeto Acelerador de Agroflorestas e Restauração, realizado em parceria pelas organizações The Nature Conservancy (TNC) Brasil, CIFOR-ICRAF e a empresa Amazon.

O objetivo do projeto é engajar agricultores no restauro de suas propriedades e gerar créditos de carbono como mais uma opção de renda. Para isso, é preciso promover a conexão dos agricultores familiares com o mercado voluntário de carbono. Esse suporte é necessário, pois atualmente é muito difícil eles conseguirem acessar esse mercado em expansão devido aos altos custos e alta complexidade do desenvolvimento dos projetos. Essa abordagem viabilizará a validação, a certificação, o monitoramento e a emissão dos créditos de carbono, além de possibilitar a venda pelos produtores de seus créditos a compradores interessados, como a própria Amazon. Na primeira fase do projeto, os potenciais créditos serão gerados nos imóveis rurais via remoção de carbono, por meio da implementação de sistemas agroflorestais e restauração ecológica em áreas degradadas ou pouco produtivas, resultando em créditos de qualidade, atraindo investimentos e inovando ao criar um modelo de negócios expansível e replicável.

Além disso, cabe destacar que o plantio de sistemas agroflorestais e a restauração florestal geram emprego e renda no meio rural, recuperam o solo e contribuem para a recarga das águas subterrâneas e regulação do fluxo hidrológico. Um estudo mostrou que, no Brasil, a restauração florestal ativa tem capacidade de gerar 0,42 emprego por hectare, ou seja, um emprego a cada 2 hectares restaurados. Levando-se em consideração os cenários do Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), de ter entre 20% e 50% de restauração ativa, com plantio de mudas e sementes, é possível gerar de 1 milhão a 2,5 milhões de postos de trabalho. E ainda por cima, os diversos arranjos agroflorestais e composições permitem que sejam gerados produtos como madeira, frutos, óleos, essências, castanhas e outros, diminuindo o risco de áreas florestais serem desmatadas e agregando valor à floresta em pé.

Outro ponto crucial quando se fala em agrofloresta é permitir que espécies agrícolas e frutíferas sejam introduzidas no início do plantio, como o milho, a mandioca e o feijão, ou ao longo do ciclo, garantindo segurança alimentar para as famílias que adotam sistemas agroflorestais.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a Amazônia brasileira já perdeu 17% de toda a sua cobertura vegetal, uma área equivalente a 729 mil km², sendo que 221 mil km² foram desmatados nos últimos 20 anos. Precisamos urgentemente reverter esse quadro e investir em soluções com a escala e a efetividade necessária que permitam a recomposição do bioma e um futuro sustentável para todos nós.

Publicado originalmente em Um Só Planeta
  05 de julho de 2023
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