Restaurar a Amazônia? Os pequenos produtores são essenciais
Mudar práticas da agricultura familiar pode reverter o desmatamento e aumentar a renda na região—veja como tornar essa mudança uma realidade
Por Ian Thompson - Diretor Executivo TNC Brasil
Poucos ecossistemas no planeta recebem tamanha atenção — tanto dos conservacionistas quanto do público em geral— como a floresta amazônica. Isso não é surpreendente, dada a importância da região para a biodiversidade e seu papel na regulação do clima global. Mas, apesar de todo esse foco, a Amazônia está desaparecendo em um ritmo alarmante e algumas áreas mais degradadas ao sul da floresta deixaram de ser um sumidouro de carbono e agora emitem mais gases de efeito estufa do que absorvem. Essa é uma má notícia para a natureza, para o clima e para as milhões de pessoas que dependem da Amazônia, tanto na região quanto ao redor do mundo.
No entanto, conservar esse ecossistema crucial é mais complexo do que pode parecer. Só no Brasil, que abriga cerca de 65% do bioma, vários motivos interligados impulsionam a destruição da Amazônia: além do desmatamento direto da floresta tropical, é preciso considerar os incêndios fora de controle, a necessidade de pequenos agricultores de cultivar alimentos e o agravamento das mudanças climáticas na região. Enfrentar esses desafios requer uma abordagem centrada nas pessoas e que leve em consideração todo o sistema: temos que nos distanciar do desenvolvimento humano e econômico às custas da natureza e partir para um modelo no qual as pessoas e a natureza prosperem juntas.
Esta é a visão de uma nova parceria entre a The Nature Conservancy (TNC), que trabalha na Amazônia há 20 anos, e a Amazon Inc. Trabalhando juntos, auxiliaremos até 3.000 agricultores no estado do Pará a cultivar e vender produtos agroflorestais, como amêndoas de cacau de árvores recém-plantadas, criando uma fonte de renda mais sustentável e, ao mesmo tempo, restaurando a floresta tropical nativa e combatendo as mudanças climáticas ao capturar e armazenar carbono naturalmente.
O Pará é duas vezes maior do que a França e atualmente abriga 9% das florestas tropicais do mundo — uma área intocada de vegetação nativa equivalente a quase quatro vezes o território do Reino Unido. Infelizmente, também é onde ocorrem os índices mais acelerados de desmatamento no Brasil. Aproximadamente 33% do desmatamento no Pará em 2020 ocorreu nas 360 mil pequenas propriedades do estado.
O desmatamento no Pará tem causas diversas, mas dois elementos-chave são a ausência de assistência técnica aos pequenos produtores e a falta de alternativas de renda. Em face às opções limitadas, desmatar mais áreas florestais para a agricultura pode parecer a decisão de negócios mais racional para muitas famílias. Mas a produção agrícola e o desmatamento não precisam andar de mãos dadas.
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Sistemas agroflorestais consistem no cultivo de alimentos e árvores nativas na mesma área. Essa abordagem é ideal para manter e regenerar a saúde dos solos, capturar carbono e prover o habitat para a vida selvagem, ao mesmo tempo em que garante a produção agrícola de longo prazo. Os cacaueiros são nativos da floresta amazônica e uma cultura popular no Pará, o que os torna particularmente adequados para a implantação de sistemas agroflorestais no estado. O cacau, em seus estágios iniciais, necessita de sombra e pode ser cultivado em áreas da floresta sem desmatamento ou plantado em áreas previamente desmatadas com outras vegetações para restaurar a floresta nativa.
O projeto no Pará exigirá um investimento financeiro significativo e inovação técnica e é aí que o financiamento de carbono pode ajudar. As emissões evitadas e o sequestro de carbono decorrentes das atividades de proteção e restauração do projeto — até 9,6 milhões de toneladas de gases de efeito estufa (GEE) nos próximos 30 anos — podem reforçar as compensações de carbono de alta qualidade que serão creditadas à Amazon Inc. como complementos dos esforços de descarbonização da empresa.
Para alcançar esses objetivos, a TNC trabalhará com parceiros-chave como o Governo do Pará, o World Agroforestry (ICRAF), ONGs locais, centros de pesquisa, municípios, empresas privadas, cooperativas, sindicatos de agricultores e outros atores locais. Em troca, a Amazon Inc. trabalhará com a TNC para fornecer aos agricultores os recursos e a assistência técnica necessários para implementar e manter os projetos agroflorestais. Um plano contínuo de monitoramento e governança garantirá que os agricultores se beneficiem continuamente de seus investimentos e a integridade dos créditos de carbono. Isso, por sua vez, significa um meio de vida mais sustentável para esses agricultores, um novo habitat para a vida selvagem e mais carbono armazenado nas plantas e no solo, contribuindo para evitar o aquecimento do planeta — um ganha-ganha-ganha de verdade.
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Essas 3.000 propriedades são apenas o começo. Esperamos demonstrar que os sistemas agroflorestais e os mercados são modelos de negócio viáveis para comunidades de pequenos agricultores da Amazônia, ou seja, proteger a natureza pode ser um negócio lucrativo. Podemos demonstrar que a natureza é um ativo e não um passivo em potencial porque o único caminho sustentável para o nosso futuro é aquele em que as pessoas e a natureza prosperam juntas.
Faça parte dessa mudança
Você também pode contribuir para fortalecer a restauração florestal na Amazônia e em todo o Brasil.