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Biodiversidade: A natureza por outro nome

A natureza sustenta todos os aspectos da existência humana – e está em crise.

Destaques

  • A biodiversidade sustenta todos os aspectos da vida no nosso planeta, mas hoje ela está diminuindo em um ritmo sem precedentes.
  • Para reverter essa tendência, precisamos encontrar melhores maneiras de lidar com nossa pegada ecológica na terra e nos mares, e novas maneiras de financiar esse trabalho.
  • O ano de 2020 é crucial, quando membros da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica se reunirem na China para chegar a um acordo sobre um novo quadro global para proteger a natureza.

Quer você more em uma grande cidade costeira ou em uma pequena cidade ao pé de uma montanha; trabalhe na agricultura, em engenharia ou finanças; viva da terra ou se considere um guerreiro urbano; quer você conscientemente perceba ou não, todos precisamos da natureza.

A comida que comemos, o ar que respiramos, o clima - essencialmente tudo o que faz da Terra um planeta habitável - tudo depende da interação de milhões de organismos em diversos ecossistemas, que aprenderam a prosperar e interagir durante bilhões de anos.

Essa variedade de vida, as comunidades que formam e habitats em que vivem compõem o tecido da vida, é a biodiversidade. Ela sustenta a saúde planetária e permeia tudo, do gosto de um grão, ao fio de um tecido e um gole de água, atendendo às nossas necessidades mais básicas. No entanto, a natureza e a vida selvagem estão em declínio no mundo inteiro em um ritmo sem precedentes.

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A biodiversidade sustenta a saúde do planeta e permeia tudo, do gosto de um grão ao fio de um tecido e um gole de água, atendendo às nossas necessidades mais básicas.

O CUSTO DE PERDER A NATUREZA

A Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas das Nações Unidas sobre Serviços de Biodiversidade e Ecossistemas (IPBES) alertou recentemente que estamos explorando a natureza muito mais rapidamente do que ela pode se renovar, gerando extinções até 1.000 vezes mais rápidas do que a "taxa histórica.” O relatório também indica que até um milhão de espécies conhecidas podem desaparecer até 2050. Os invertebrados, em particular, estão desaparecendo tão rapidamente que alguns cientistas alertam para o surgimento de um "Armagedom de insetos."

Essa perda de espécies tem um preço - literal e figurativamente. Embora o valor intrínseco da natureza não tenha preço, economistas estimam que a natureza também contribui com trilhões de dólares para a economia global a cada ano na forma de serviços ecossistêmicos - processos naturais como polinização e fornecimento de água. Sabemos, por exemplo, que 75% das culturas alimentares globais dependem da polinização; que as florestas filtram e armazenam 40% da água fornecidas às maiores áreas urbanas do mundo; e habitats costeiros, como recifes de coral e manguezais, nos protegem de inundações e tempestades, enquanto também absorvem dióxido de carbono da atmosfera. Além desses serviços essenciais, outros aspectos culturais e físicos de nosso relacionamento com a natureza, embora menos fáceis de quantificar, são sem dúvida igualmente importantes para nossa qualidade de vida.

PROTEJA O MELHOR—MAS TAMBÉM MANEJE O RESTO

O colapso climático já está deixando claro que o futuro do desenvolvimento humano depende de repensar nossa relação com o mundo natural. A crise da biodiversidade reforça ainda mais a necessidade de agir urgentemente. A The Nature Conservancy (TNC) faz parte de um esforço global para preservar os habitats selvagens e quase naturais do mundo, com o objetivo de proteger 30% do planeta até 2030. Mas não basta criar simplesmente áreas mais protegidas na terra e no mar - também precisamos abordar as causas da perda de biodiversidade.

Os maiores agentes diretos desse declínio acentuado são mudanças maciças no uso da terra, mudanças climáticas, poluição, uso e exploração de recursos e espécies invasoras. A expansão agrícola nos últimos cinquenta anos resultou na degradação de florestas intactas, especialmente nos trópicos, mas cidades e estradas também invadiram as paisagens naturais. Enquanto isso, os ecossistemas marinhos estão em péssimo estado devido aos impactos cumulativos da pesca excessiva, poluição e fatores relacionados ao clima, como aquecimento dos oceanos, acidificação e desoxigenação.

Abordar essas questões significa mudar fundamentalmente a maneira como gerenciamos nossa pegada ecológica na terra e no mar. Podemos - e devemos - cultivar mais alimentos por meio de práticas agrícolas regenerativas que buscam reduzir as emissões de gases de efeito estufa e proteger o solo e a biodiversidade. Além de interromper o desmatamento e outras conversões de habitat, podemos melhorar o manejo das florestas onde existem atividades para preservar o maior número possível de espécies sem sacrificar a produção sustentável. Em áreas que já foram degradadas, devemos restaurar e regenerar florestas e outras paisagens. As terras degradadas também oferecem oportunidades para instalação de infraestrutura de maneira a atender às necessidades humanas com um impacto mínimo na natureza.

No mar, precisamos gerenciar melhor a pesca, criar refúgios seguros no oceano e criar resiliência ao longo de nossas costas. Um ponto positivo: um novo acordo para a biodiversidade além da jurisdição nacional (a mais de 200 milhas náuticas da costa) visa proteger o alto mar em todo o mundo.  

INVESTIR EM CAMINHOS SUSTENTÁVEIS

Não se engane: conseguir tudo isso dentro dos prazos necessários para evitar uma catástrofe ecológica exigirá mudanças maciças e transformadoras em nossas economias e sistemas financeiros globais. Por exemplo, as centenas de bilhões de dólares em subsídios públicos atualmente direcionados ao setor agrícola, cujo objetivo original era tornar os alimentos mais baratos e mais abundantes, trazem custos ocultos para a natureza e a saúde das pessoas, incentivando com muita frequência práticas agrícolas insustentáveis e uma alimentação não saudável. Idealmente, esses fundos devem ser realocados para apoiar a produção de alimentos saudáveis e, ao mesmo tempo, beneficiar a natureza.

Repensar os gastos públicos por si só não é suficiente - também teremos que desbloquear ou redirecionar novas fontes de financiamento para a natureza, inclusive vindas do setor privado. Com demasiada frequência, o valor econômico dos serviços que a natureza fornece - a maneira como as florestas filtram e recarregam as águas subterrâneas, por exemplo - passa despercebido e não é avaliado. Porém, quantificar esses valores abre as portas para investir diretamente na natureza de modo a gerar retornos financeiros e benefícios de conservação. Para começar a gerenciar a crise de conservação, precisamos procurar soluções de financiamento para a conservação que sejam facilmente dimensionadas para gerar bilhões de dólares por ano, todos os anos.

 

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Não se engane: conseguir tudo isso dentro dos prazos necessários para evitar uma catástrofe ecológica exigirá mudanças maciças e transformadoras em nossas economias e sistemas financeiros globais.

A The Nature Conservancy foi pioneira no uso de fundos de água, acordos locais em que os usuários urbanos pagam a um fundo que investe na conservação e aprimora práticas agrícolas nas bacias hidrográficas. As bacias hidrográficas fornecem água para as maiores cidades do planeta. Elas representam um terço da superfície da Terra, sustentam mais de 1,7 bilhão de pessoas e abrigam mais de 50% das espécies terrestres ameaçadas de extinção do planeta.

Em muitos casos, esses investimentos em "infraestrutura verde” são uma maneira mais econômica de garantir melhorias na qualidade da água em comparação às soluções tradicionais de "infraestrutura cinza", como plantas que filtram a água. Considerando que o mundo gasta cerca de meio trilhão de dólares por ano em infraestrutura hídrica, a natureza pode melhorar o retorno desse investimento, fornecendo água potável para centenas de cidades por um custo menor. Essa é uma proposta de investimento de bilhões de dólares com um custo financeiro negativo.

SE COMPROMETA COM A NATUREZA

O ano de 2020 é crucial para enfrentarmos essas grandes ameaças ecológicas e sistêmicas. Quando a Convenção da ONU sobre Biodiversidade se reunir novamente em Kunming, na China, 196 governos nacionais terão a oportunidade de assumir um compromisso ambicioso para a proteção da biodiversidade, que reconhecerá plenamente o valor da natureza na sociedade e no governo. A sociedade e movimentos impulsionam uma demanda pela natureza.

O mundo natural não é um lugar distante: é o nosso mundo. O colapso ecológico em larga escala em um período tão curto aconteceu apenas cinco vezes na história do planeta. Historicamente, no entanto, as extinções em massa foram causadas por eventos catastróficos como colisões de asteroides e vulcões. Desta vez, as atividades humanas e a transformação descontrolada do planeta estão acontecendo durante nossas vidas.

A boa notícia é que o caminho a seguir também está em nossas mãos, mas apenas se estivermos dispostos a tomar as decisões criativas, políticas e financeiras necessárias para evitar consequências quase inimagináveis no futuro. A natureza da qual precisamos está ameaçada, mas também é profundamente resiliente e pode se regenerar se colaborarmos com ela em vez de atuarmos contra ela. Um acordo decisivo entre os países que trace um caminho a seguir, apoiado pelos meios financeiros para mantê-lo, seriam ações possíveis e necessárias para mudar de rumo e realmente se mobilizar pela natureza.